Especial Titanic - 32 anos da redescoberta

Daqui a um mês, lá se vão 32 anos desde que o pesquisador e oceanógrafo norte-americano Robert Ballard fez uma das maiores descobertas da história: no dia 1º de setembro de 1985, ele simplesmente encontrou os destroços do RMS Titanic, o mais famoso navio de passageiros do mundo, que havia naufragado na madrugada do dia 15 de abril de 1912, 5 dias após ter zarpado do porto de Southampton, ao sul da Inglaterra. Durante essa semana, o Just Travel vai relembrar a história não só do Titanic, mas de cada cidade e país por onde ele passou até colidir contra um iceberg na sua trágica viagem inaugural.

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O Titanic só foi encontrado 73 anos depois do naufrágio
CONSTRUÇÃO DO NAVIO

O mais famoso navio de passageiros do mundo começou a ser construído nos estaleiros Harland and Wolff, em Belfast (Irlanda do Norte), no dia 22 de março de 1909, com o seu casco tendo o número 401. Os trabalhos de armação de sua estrutura progrediram em um bom ritmo e foram completados no início de 1911. Seu casco era formado por aproximadamente duas mil placas de aço medindo três metros de comprimento por dois metros de largura e uma espessura entre 2,5 a 3,8 centímetros. Essas placas eram mantidas unidas por mais de três milhões de rebites. Mas muita gente se pergunta o motivo de estar escrito o nome "Liverpool" logo abaixo do nome do navio na popa? É porque o porto da cidade inglesa foi o porto de registro do Titanic, no dia 24 de março de 1912, exatamente três anos e dois dias depois do início da construção do navio.

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Dado como "inafundável", navio naufragou em sua primeira viagem
INSTALAÇÕES DO TITANIC

O Titanic fornecia aos seus passageiros as instalações mais luxuosas e confortáveis do que qualquer outro navio contemporâneo. As instalações da primeira classe iam desde o convés dos botes até o convés E e incluíam um ginásio com os equipamentos mais modernos da época, quadra de squash, uma sala de fumar decorada com uma lareira e pinturas de Norman Wilkinson, um restaurante à la carte, dois cafés decorados com palmeiras, uma piscina coberta, banhos turcos, uma sala de leitura com mobílias de mogno e vitrais e um convés de passeio coberto. Suas cabines eram igualmente luxuosas, com algumas tendo até casas de banho particulares (uma coisa rara na época) e com duas delas inclusive possuindo seu próprio convés de passeio privado. Conectando todas as cabines e instalações estavam duas magníficas grandes escadarias, uma entre a primeira e segunda chaminés e a outra entre a terceira e quarta, que eram cobertas por uma enorme cúpula de vidro. A escadaria dianteira era adornada por um relógio entalhado em madeira chamado de "Honra e Glória Coroando o Tempo" e era servida também por três elevadores que iam do convés A ao convés E. No convés D a grande escadaria dava para uma enorme sala de jantar.

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Cena do filme "Titanic", de 1997. Rose (Kate Winslet) vai ao encontro de Jack (Leonardo DiCaprio) na principal escadaria do navio
VIAGEM INAUGURAL

O porto onde o Titanic havia sido registrado foi o porto de Liverpool, mesmo com o navio jamais tendo passado por lá. Mas foi do sul da Inglaterra, mais precisamente no porto de Southampton, que o navio partiria rumo a Nova York, nos Estados Unidos. O Titanic partiu em sua primeira e única viagem com 1.316 passageiros a bordo: 325 na primeira classe, 285 na segunda e 706 na terceira. Deles, 922 embarcaram em Southampton, 274 em Cherbourg, na França e 120 em Queenstown (atualmente Cobh), na Irlanda. Na primeira classe estavam os passageiros mais ricos do navio, dentre eles empresários, artistas, oficiais militares, políticos e outros. Em muitos casos eles viajaram com várias malas de bagagem e um ou mais criados particulares. 

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10 de abril de 1912: o Titanic deixa o porto de Southampton rumo aos Estados Unidos
O Titanic deixou o porto de Southampton às 12h15min do dia 10 de abril de 1912 com 953 passageiros a bordo, 29 dos quais desembarcariam antes do navio seguir para Nova Iorque. A bordo estavam pessoas de quarenta nacionalidades diferentes. Ao partir a embarcação passou perto do SS New York, que estava atracado no cais. A sucção das hélices do Titanic fez com que as amarras que prendiam o New York se soltassem, e ele rapidamente começou a se aproximar do navio maior. Smith deu ordem para que as máquinas entrassem em ré a fim criar um efeito que empurrasse o New York para longe. Os rebocadores do porto conseguiram parar o New York e impedir uma colisão, porém os dois navios chegaram a ficar a menos de dois metros de distância um do outro. Esse incidente fez com que o Titanic deixasse Southampton com uma hora de atraso.

Em seguida ele foi para Cherbourg, na França, chegando às 18h35min. 22 passageiros desembarcaram e outros 274 subiram a bordo, em sua maioria da primeira classe. Já que a embarcação era muito grande para entrar no porto da cidade, o transporte dos passageiros foi realizado por dois barcos auxiliares: o SS Nomadic e o SS Traffic. O navio deixou Cherbourg às 20h10min.

O Titanic então rumou para Queenstown (Cobh) na Irlanda, chegando às 11h30min do dia seguinte. Sete passageiros desceram e 120 embarcaram, principalmente imigrantes da terceira classe que pretendiam tentar a vida nos Estados Unidos. O navio deixou Queenstown às 13h30min e iniciou sua travessia transatlântica para Nova Iorque com 1316 passageiros e 889 tripulantes. Desde o naufrágio muitas vezes se afirmou que o capitão Smith planejava se aposentar ao final da viagem; entretanto, não existem evidências concretas que essa era realmente sua intenção, enquanto outras fontes sugerem que a White Star Line planejava mantê-lo no comando do Titanic até o lançamento do Britannic, então agendado para 1914.

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Frente a frente com o perigo: o Iceberg é avistado (imagem retirada da cena do filme "Titanic", de 1997)
A ÚLTIMA NOITE E O ICEBERG

Era noite do dia 14 de abril de 1912. O Titanic já havia percorrido mais de 2500 quilômetros por volta daquele domingo. Dentre os avisos de gelo recebidos durante o dia, estava um do SS Californian. Às 22h55min, o Californian enviou um outro aviso para todos os navios próximos, inclusive para o Titanic. Porém, Jack Phillips interrompeu o operador da outra embarcação e o mandou calar a boca para que pudesse continuar enviando mensagens dos passageiros para o continente. Logo depois disso o operador de rádio do Californian desligou seus equipamentos e foi dormir, já que não era costume manter os operadores trabalhando durante a noite.

Por volta das 23h30min, o Titanic estava viajando a pouco mais de 21,5 nós (41 km/h), com a maioria dos passageiros já estando dormindo ou retirados em suas cabines. Neste momento na ponte de comando estavam de serviço o primeiro oficial Murdoch e o sexto oficial Moody, enquanto na roda do leme estava o quartel-mestre Robert Hichens. No cesto de gávea no mastro principal estavam os vigias Frederick Fleet e Reginald Lee. Era uma noite escura, não havia nuvens nem Lua no céu e a água estava completamente calma; atualmente sabe-se que uma água extremamente calma como aquela encontrada pelo Titanic é um sinal da presença de icebergs por perto, porém isso não era de conhecimento dos marinheiros da época.

Imagem raríssima do Iceberg com o qual o Titanic colidiu (foto da manhã do dia 15 de abril de 1912)
Fleet e Lee avistaram um iceberg diretamente na frente do navio à aproximadamente 23h40. Fleet tocou o sino de alerta três vezes e telefonou para a ponte, informando Moody sobre o gelo. O sexto oficial repassou o aviso para Murdoch, que por sua vez ordenou uma parada total das máquinas e que Hichens virasse a embarcação para bombordo. Houve um atraso antes que quaisquer uma das ordens pudessem entrar em efeito: o mecanismo de manobra demorava até trinta segundos para mover o leme do Titanic, enquanto parar os motores também era uma tarefa que precisava de muito tempo para poder ser realizada.

O Titanic começou a virar quase quarenta segundos depois, porém isso não foi suficiente. O iceberg colidiu com o lado estibordo do navio, arranhando seu casco embaixo da linha d'água e fazendo com que pedaços de gelo caíssem nos conveses dianteiros. Murdoch ordenou uma virada para estibordo a fim de mudar o curso da popa e dessa forma evitar que o gelo danificasse toda a extensão do navio, também ativando o fechamento imediato das comportas estanques para tentar conter a água. Smith estava em sua cabine no momento da colisão, porém sentiu a vibração do navio e foi para a ponte, onde Murdoch lhe informou sobre o ocorrido.

Madrugada do dia 15 de abril, 0h05: o Capitão Edward Smith deu ordem para que os botes fossem preparados e os passageiros acordados. Ele ordenou que Phillips e Bride começassem a enviar pedidos de socorro, que erroneamente direcionaram os navios de resgate para uma posição 21 km distante de onde o Titanic realmente estava. Os comissários de bordo logo foram bater de porta em porta chamando os passageiros e pedindo para que eles fossem para o convés dos botes. O tratamento recebido dependia da posição social; os comissários da primeira classe cuidavam cada um de apenas algumas cabines, então eles podiam ajudar os passageiros a se vestirem e irem para o convés, enquanto os comissários da segunda e terceira classe tinham de percorrer várias cabines rapidamente, rudemente acordar os passageiros e mandá-los colocarem coletes salva-vidas. Apesar das ordens, muitos passageiros e tripulantes estavam relutantes em atender os pedidos, por não acreditarem que o Titanic estava em perigo ou por não quererem sair no frio da noite. Não foi dito que o navio estava afundando, porém algumas pessoas perceberam que ele estava inclinando.

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Momento em que o Titanic se parte ao meio (cena do filme)
O ângulo do Titanic começou a aumentar rapidamente por volta das 2h15, já que a água estava entrando em partes anteriormente intactas através de escotilhas abertas. O aumento súbito do ângulo criou uma onda que varreu a parte dianteira do convés dos botes, jogando várias pessoas na água. Aqueles que estavam tentando lançar os botes desmontáveis A e B também foram levados pela onda junto com os barcos. A popa do navio se ergueu no ar enquanto a proa ficou totalmente submersa, com sobreviventes afirmando terem ouvido um enorme estrondo vindo de dentro da embarcação. Após mais um minuto as luzes do Titanic piscaram e se apagaram para sempre, deixando todos na escuridão.

O navio estava sendo sujeito a forças opostas extremas – a proa inundada puxando-o para baixo enquanto o ar dentro da popa o mantinha na superfície – que se concentraram em uma das áreas mais fracas da superestrutura, a área perto da junta de expansão traseira. O navio se partiu em dois perto da terceira chaminé pouco depois das luzes terem se apagado. A proa permaneceu ligada com a popa pela quilha durante um curto período, puxando a segunda parte até um ângulo bem alto antes de se soltar, deixando a popa flutuando. Ela balançou enquanto vários compartimentos eram inundados até chegar a uma posição quase vertical, onde permaneceu por alguns momentos. O Titanic finalmente afundou por completo à aproximadamente 2h20min, duas horas e quarenta minutos depois da colisão.

Imediatamente em seguida, centenas de passageiros e tripulantes foram deixados para morrer no mar congelante, cercados por destroços que tinham se desprendido do navio e passaram a ser usados como boias. Algumas das pessoas morreram quase instantaneamente de um infarto agudo do miocárdio causado pelo repentino estresse no sistema cardiovascular. Outros progrediram pelos sintomas clássicos de hipotermia: primeiro tremores extremos, seguido pela diminuição e enfraquecimento dos batimentos cardíacos até a perda de consciência e morte.

Aqueles nos botes ficaram horrorizados pelo som das pessoas gritando e pedindo ajuda; o terceiro oficial Pitman no bote nº 5 mais tarde afirmaria que os gritos o traumatizaram pelo restante da vida. Muitos ocupantes debateram se deveriam voltar e resgatar os náufragos.

73 ANOS DEPOIS - A REDESCOBERTA

O Titanic permaneceu "desaparecido" dos olhos do mundo até o dia 1º de setembro de 1985, quando o pesquisador e oceanógrafo Robert Ballard encontrou os restos do navio naufragado no meio das águas do Atlântico Norte, perto da Ilha de Terra Nova (Newfoundland), no Canadá. 73 anos depois da tragédia, uma expedição conseguiu encontrar, filmar e fotografar o navio a 4.000 metros de profundidade.

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A proa do Titanic é a parte mais conservada entre os destroços
Não foi por acaso que a maioria das buscas tenha sido malsucedida. Os restos do navio encontravam-se a uma profundidade de 3.800 m, onde a luz do sol não alcança, e a uma pressão esmagadora de 425 kg por cm², tornando o local de impossível acesso sem a utilização de um submarino. Na ocasião do descobrimento, a principal revelação foi o fato de o navio ter se partido em dois durante o naufrágio, diferentemente do que se pensava antes, a despeito dos vários depoimentos dos sobreviventes que alegaram ter visto a embarcação dividida em duas partes.

Esse era o hall do salão principal da primeira classe
O local, ao longo do tempo, foi alvo de muitas pesquisas e análises. Muitas delas permitiram a produção das teorias a respeito das sequências do naufrágio, todas elas retratadas em compilações visuais, dentre as quais a mais premiada foi o filme estrelado em 1997. Da mesma forma, os destroços passaram a ser utilizados como ponto turístico, recebendo várias visitas. Vale lembrar que nenhum corpo jamais foi encontrado em virtude da alta salinidade, da ação de micro-organismos e do tempo decorrido da tragédia.

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Várias bandejas da cozinha do navio
Em uma reportagem para a revista National Geographic, em 2004, um dos oceanógrafos responsáveis pela descoberta, Robert Ballard, expressou a sua insatisfação com relação às violações e desrespeitos praticados contra a memória de um episódio histórico. Atendendo a pedidos de muitos que prezavam pela conservação material e pelo respeito com o incidente ocorrido, os destroços do Titanic passaram a contar com a proteção da Unesco a partir de abril de 2012, 100 anos após o naufrágio.

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Enquanto a proa está muito bem conservada, a popa está bastante danificada
Das partes do esqueleto do navio submerso, a icônica proa é a parte que está mais bem conservada. Os destroços do Titanic tem sido visitados por vários times de exploradores, cientistas, cineastas e turistas desde sua descoberta, com centenas de itens tendo sido retirados para conservação e exibição pública. A condição do navio tem deteriorado significantemente nos últimos anos, parcialmente devido a danos acidentais causados por submarinos mas principalmente por causa da acelerada taxa de crescimento de uma bactéria comedora de ferro que vive no casco. Estima-se que todo o casco e estrutura do Titanic irão desmoronar nos próximos cinquenta anos, eventualmente deixando apenas seus objetos mais resistentes como as imponentes hélices de bronze, enquanto o resto vai se transformar em uma grande pilha de ferrugem.

A famosa hélice de bronze do Titanic
A RMS Titanic Inc., que está autorizada a retirar objetos dos destroços, tem uma exibição permanente sobre o navio no Luxor Hotel em Las Vegas, tendo inclusive um pedaço de 22 toneladas do casco. A empresa também organiza uma exibição que viaja ao redor do mundo. Em Halifax (no Canadá), o Museu Marítimo do Atlântico exibe artefatos recuperados do mar alguns dias depois do naufrágio. Eles incluem pedaços de madeira dos painéis que adornavam a Sala de Estar da Primeira Classe e uma espreguiçadeira original, além de objetos recuperados dos corpos das vítimas. O centenário do Titanic em 2012 foi marcado e celebrado por peças teatrais, programas de rádio, documentários, exbições e viagens especiais para o local do desastre, junto com selos e moedas comemorativas.

A famosa proa do Titanic segue conservada mesmo 105 anos depois do naufrágio
Ainda durante essa semana, seguiremos com o especial dos 32 anos da redescoberta do Titanic no fundo do mar. Como foi citado no início da postagem, o navio começou a ser construído nos estaleiros da Harland and Wolff, em Belfast, na Irlanda do Norte. O Just Travel possui um post contando um pouco mais sobre a cidade onde o navio começou a ser construído. Leia mais sobre a capital norte-irlandesa clicando no link abaixo:

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