Salto de Sete Quedas - Paraná

Ela foi a maior cachoeira do mundo em volume de água durante anos, até desaparecer com a formação do lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Resquícios delas aparecem quando o nível de água da usina está baixo. Nos meses de novembro e dezembro de 2012 e em janeiro de 2013, uma pequena parte de um dos saltos e grande parte das pedras apareceram no rio. Hoje, vamos falar dessa maravilha da natureza, destruída há quase 40 anos, em Guaíra, no Paraná. Na época, as quedas eram o ponto turístico mais visitado do Brasil por turistas estrangeiros. E a pedido da nossa querida leitora Bárbara Marques, de Chapecó/SC, estaremos relembrando um pouco dessa história.


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Era o ponto turístico mais visitado no país por estrangeiros
HISTÓRIA DAS SETE QUEDAS

Apesar do nome "sete quedas", eram constituídas por 19 cachoeiras principais, sendo agrupadas em sete grupos de quedas. Recordistas mundiais em volume d'água, as Sete Quedas eram o principal atrativo turístico de Guaíra, cidade que, à época, chegou a ter 60 mil habitantes, rivalizando em importância com as cataratas de Foz do Iguaçu. À época, Guaíra era um dos destinos brasileiros mais visitados por estrangeiros. Atualmente, a população da antiga cidade real espanhola é inferior a 30 mil habitantes. Vivia-se o regime militar, e o presidente João Batista Figueiredo anunciou que nada poderia fazer por Sete Quedas, visto que a construção da hidrelétrica era mais importante. De acordo com levantamentos altimétricos a primeira ponte – a do Saltinho – ficava a 204 metros acima do nível do mar, o que significa que o lago formado pela represa de Itaipú, ao atingir sua cota que é de 220 metros acima do nível do mar, deixaria esta ponte sob 16 metros abaixo d’água. O auge da visitação turística do local se deu nos anos 60, o Salto do Guaíra havia tomado uma grande atenção turística das Cataratas do Iguaçu, as duas quedas dividiam as atenções na época. Tudo corria muito bem, a novíssima cidade de Guaíba crescia rapidamente com o dinheiro vindo do turismo, a cidade alcançou uma população de 60 mil habitantes (hoje conta com apenas 30 mil). As quedas eram um sucesso até que em 1979 foi decretado o fim do Salto das Sete Quedas. O governo havia decretado que a construção da Usina de Itaipu iria alagar o Salto Guaíra. Após o ocorrido, milhares de turistas se dirigiram às Sete Quedas, todos queriam vê-la antes que ela se fosse, todos queriam ver seus últimos dias.

A TRAGÉDIA DA PONTE

Quando a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu foi anunciada, ocorreu uma super visitação ao parque nacional das sete quedas. Milhares de pessoas, de todas as partes do Brasil e do mundo, iam a Guaíra para presenciar os últimos dias das Sete Quedas. Devido à superlotação, em 17 de Janeiro de 1982 ocorreu a queda da ponte Presidente Roosevelt, que dava acesso ao salto 19, tendo como consequência a morte de 32 pessoas. No entanto, 6 pessoas sobreviveram, salvas por pescadores de Guaíra. A investigação apontou para uma dupla causa: primeiro, a falta de cuidado com a manutenção das pontes sob a presunção de que em breve as Sete Quedas seriam inundadas; e depois, o aumento descontrolado da visitação, pois todos queriam ver os saltos antes de seu desaparecimento para a formação do lago de Itaipu.

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Em janeiro de 1982, uma das pontes não aguentou a superlotação e acabou cedendo, matando 32 pessoas
Às vésperas da inundação, uma grande manifestação ocorreu no parque nacional das Sete Quedas. Centenas de pessoas se reuniram e realizaram o ritual indígena Quarup, em memória das Sete Quedas. Em 13 de outubro de 1982, o fechamento das comportas do Canal de Desvio de Itaipu começou a sepultar, com as águas barrentas do lago artificial, um dos maiores espetáculos da face da Terra: as Sete Quedas do Rio Paraná ou "Saltos del Guaíra". Durante a inundação, os moradores de Guaíra iam até a beira do rio para se despedirem das Sete Quedas.

A inundação das Sete Quedas durou apenas 14 dias, pois ocorreu em uma época de cheia do rio Paraná, e todas as usinas hidrelétricas acima de Itaipu abriram suas comportas, contribuindo com o rápido enchimento do lago.

Portanto, em 27 de outubro de 1982 o lago estava formado e as quedas, submersas. Nos dias seguintes ao alagamento, apenas as copas das árvores ficavam acima do nível do rio. De acordo com levantamentos altimétricos a primeira ponte - a do Saltinho - ficava a 204 metros acima do nível do mar, o que significa que o lago formado pela represa de Itaipu, ao atingir sua cota que é de 220 metros acima do nível do mar, deixou esta ponte sob 16 metros abaixo da lâmina de água.

Salto Arco-Íris
Posteriormente, a parte do afloramento rochoso foi dinamitado para melhorar as condições de segurança da navegação.

Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta Carlos Drummond de Andrade expressou sua inconformidade com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade.

Na edição de 9 de setembro, quando afinal se anunciava o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B:


"Sete quedas por mim passaram,e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele a memória dos índios, pulverizada, já não desperta o mínimo arrepio.
Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por mão do homem, dono do planeta. Aqui outrora retumbaram vozes da natureza imaginosa, fértil em teatrais encenações de sonhos aos homens ofertadas sem contrato.
Uma beleza-em-si, fantástico desenho corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno mostrava-se, despia-se, doava-se em livre coito à humana vista extasiada. Toda a arquitetura, toda a engenharia de remotos egípcios e assírios em vão ousaria criar tal monumento.
E desfaz-se por ingrata intervenção de tecnocratas. Aqui sete visões, sete esculturas de líquido perfil dissolvem-se entre cálculos computadorizados de um país que vai deixando de ser humano para tornar-se empresa gélida, mais nada.
Faz-se do movimento uma represa, da agitação faz-se um silêncio empresarial, de hidrelétrico projeto. Vamos oferecer todo o conforto que luz e força tarifadas geram à custa de outro bem que não tem preço nem resgate, empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la.
Sete boiadas de água, sete touros brancos, de bilhões de touros brancos integrados, afundam-se em lagoa, e no vazio que forma alguma ocupará, que resta senão da natureza a dor sem gesto, a calada censura e a maldição que o tempo irá trazendo?
Vinde povos estranhos, vinde irmãos brasileiros de todos os semblantes, vinde ver e guardar não mais a obra de arte natural hoje cartão-postal a cores, melancólico, mas seu espectro ainda rorejante de irisadas pérolas de espuma e raiva, passando, circunvoando, entre pontes pênseis destruídas e o inútil pranto das coisas, sem acordar nenhum remorso, nenhuma culpa ardente e confessada.
(“Assumimos a responsabilidade! Estamos construindo o Brasil grande!”)
E patati patati patatá... Sete quedas por nós passaram, e não soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas, e todas sete somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá".
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987)




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Quando a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu foi anunciada, ocorreu uma super visitação ao parque nacional das sete quedas. Milhares de pessoas, de todas as partes do Brasil e do mundo, iam a Guaíra para presenciar os últimos dias das Sete Quedas.
Para se ter uma ideia de sua grandeza basta compararmos a taxa média de fluxo anual dela com as Cataratas do Niágara (a maior em volume de água atualmente), a Sete Quedas tinha um fluxo de 13.300 m³/s enquanto as Cataratas do Niágara tem hoje 2.407 m³/s. Ela se localizava na fronteira entre o Brasil e o Paraguai fazia parte do Rio Paraná, hoje ela esta localizada no fundo do lago artificial de Itaipu. As quedas localizavam-se em um ponto onde o rio Paraná era forçado através de um estreito desfiladeiro. Na cabeça das quedas, o rio estreitava drasticamente a partir de uma largura de cerca de 380 m a 61 m. A altura total das quedas foi de aproximadamente 114 m, enquanto a maior das 19 grandes cachoeiras tinha uma queda de 40 m de altura. O rugido da água mergulhando podia ser ouvido a 20 quilômetros de distância.

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